[Suzumiya Haruhi no Yuuutsu] Minhas Queridas Amoras - Oneshot

E lá estava eu, caminhando pelas ruas quase desertas da pequena cidade onde minha vó morava. Todos os verões minha mãe insistia em nos enterrar aqui, para passar as férias. A cidade se resumia em um mercadinho, uma delegacia, que também era fórum e prefeitura, e uma plantação de amoras, que era para onde eu me dirigia agora. Sempre gostei muito de amoras, e elas eram o único motivo que eu tinha para aguentar minha vó apertando minhas bochechas até elas sangrarem, dizendo o quanto eu cresci.

Sorri minimamente ao me deparar com a primeira amoreira. Ela estava carregada, e por algum motivo, era a única que estava do lado de fora da cerca. Nas últimas vezes em que vim, eu fui até a fazenda com a minha vó, então tinha autorização para comer quantas amoras conseguisse, mas como eu não queria ser preso por furto aos seis anos de idade, resolvi subir nesse mesmo, sem pular a cerca.

Estava pronto para começar a escalada, quando uma risada debochada e divertida ecoou atrás de mim. Com o susto, perdi equilíbrio e cai de costas no chão. Tudo o que pude ver, era o rosto de uma menina agachada ao meu lado, talvez da minha idade, que sorria vitoriosa, como se merecesse méritos por me fazer cair daquele jeito. Ela se levantou, e eu pude ver parte das suas pernas e...

— Idiota! O que pensa que está fazendo? Estava olhando para onde, pervertido?! – ela deu um chute no meio da minha cara, segurando a saia com as mãos. Doeu. Muito! Mas eu não iria admitir que apanhei de uma garota, então contive o espasmo de dor. Levantei rapidamente, encarando a pequena agressora a minha frente com furor. Ela era bem pequena, seus intensos olhos cor de ébano brilhavam com profunda irritação, e seus cabelos castanhos estavam amarrados em dois rabos de cavalo no alto da cabeça com uma fita amarela.

— O que você quer? – ameacei.

— O mesmo que você... – sua expressão mudou, tentando me convencer – Amoras. Por isso proponho que façamos um acordo – ela conclui de olhos fechados, como quem articula um discurso ensaiado.

— Que acordo? – eu estava desconfiado, mas sabia que não conseguiria pegar muitas amoras sozinho, então deixei que ela terminasse de falar... talvez chegássemos mesmo a um acordo.

— É bem simples, até um idiota como você pode entender – ela disse com superioridade. Sigh. Que garota irritante – você pega as amoras e eu seguro elas pra você, depois você pega a minha parte e nós comemos juntos, que tal?

— Hmm... – analisei a proposta por alguns segundos... ela era extremamente importuna e antipática, mas era muito bonita, e com a ajuda dela eu conseguiria pegar mais amoras... – certo. Eu aceito.

— Ótimo! – ela deu um enorme sorriso antes de sair correndo – eu já volto, espera aqui!

Eu esperei. Quando já estava quase desistindo, achando que ela havia me enganado e agora estava escondida em algum buraco rindo da minha cara, a vi voltando, com os cabelos voando e uma cesta de vime chacoalhando nas mãos.

— Pronto! Sobe – ela disse com autoridade, e só me restou fazer isso. Claro que não foi por que ela mandou, foi por que eu quis!

De cima da amoreira, eu jogava as pequenas frutinhas, que ela pegava com habilidade. Depois de muito tempo, decidi que a cesta já estava cheia o bastante, então comecei a descer. Mal posso esperar para comer aquelas deliciosas amoras, que custaram tanto a serem pegas. Meus dedos e minhas pernas doem muito, sem falar na cabeça, por causa daquele chute, mas acho que vale a pena.
Pulei para o chão e olhei em volta. Vazio. Eu estava completamente sozinho. Ao longe pude distinguir seus cabelos escuros subindo e descendo enquanto ela corria. Corria rapidamente, para longe de mim. Com as amoras.


Já não havia mais amoras maduras no pé. E eu não ia pular a cerca como um criminoso.

Naquele verão eu fiquei sem amoras...

E passei a não confiar em mais nenhuma garota do mundo!

Maldita garota da fita amarela.

Espero nunca mais encontrá-la.